Trabalhadores oficializam não ao plano de recuperação da Busscar

Em Assembleia Geral, categoria que está há dois anos sem receber salários e direitos trabalhistas, reprovou as propostas da encarroçadora e vai levar a posição para a Assembleia dos Credores
ADAMO BAZANI – CBN
Os trabalhadores da Busscar, encarroçadora de ônibus que já foi uma das maiores do mercado, oficializaram a rejeição às propostas contidas no Plano de Recuperação apresentado pela empresa em 31 de outubro de 2011.
Essa posição será levada à Assembléia Geral dos Credores da Busscar, que deve ser realizada num centro de convenções, em Joinville, Santa Catarina, nos dias 22 e 29 de maio.
Com a rejeição do Plano de Recuperação, a falência da fabricante de ônibus fica judicialmente mais próxima.
O plano tem de ser aceito por todos os credores e não apenas os trabalhadores rejeitam as propostas. Ouros credores como bancos e fornecedores também não estão satisfeitos com as propostas da companhia da família Nielson. Tanto é que há cerca de 200 pedidos de impugnação do plano na Justiça em Joinville.
As dívidas da empresa chegam a R$ 870 milhões. Somadas aos tributos atrasados, as dívidas se aproximam de R$ 1 bilhão e 300 milhões.
Um dos pontos mais polêmicos que tem desagradado tanto trabalhadores como outros credores são os descontos propostos pela encarroçadora sobre os débitos. Esses descontos variam entre 5% e 95%, dependendo do tipo do credor, seja ex acionista, banco ou trabalhadores.
Há exatos dois anos consecutivos, a Busscar não paga salários e direitos trabalhistas. A companhia chegou a ter 5 mil funcionários, mas hoje este número é pouco menos de mil colaboradores.
No entanto, proporcionalmente ao tempo que saíram depois da crise, todos estes cinco mil trabalhadores têm algum crédito a receber da Busscar.
Os trabalhadores também rejeitaram o plano de recuperação da empresa por acharem as propostas inconsistentes com a realidade do mercado.
Só para este ano, a companhia estimou produzir 1,8 mil carrocerias de ônibus com receita de R$ 335,6 milhões.
Até agora, a empresa não fez mais que 80 carrocerias. Parte do projeto pela Busscar viria de um programa do BNDES de incentivo à indústria brasileira que financiaria R$ 400 milhões para companhias nacionais exportarem ônibus para a Guatemala. A Busscar teria direito a R$ 140 milhões, mas este projeto ainda não saiu do papel.
A situação da companhia se complica com a rejeição não só por parte dos trabalhadores, mas de outras entidades e empresas também.
A encarroçadora rejeitou a proposta feita pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Oficinas Mecânicas de Joinville de pagamento à vista de 50% dos débitos de salários e de parcelamento em 12 meses do restante, sem a incidência de descontos.
A situação difícil da empresa começou em 2008. A Busscar, que já disputou a liderança com a Marcopolo no setor de rodoviários, e com a Caio no segmento de urbanos, alega que foi vítima da crise econômica mundial de 2008 que causou uma bolha de tensão no mercado financeiro e restrição ao crédito. Ainda segundo a empresa, boa parte da produção dependia de financiamentos que foram reduzidos.
Já analistas de mercado entendem que os problemas da Busscar não se resumem à crise mundial de 2008, superada por outras encarroçadoras e empresas de segmentos diversos.
Eles apontam uma fragilidade administrativa da empresa que não teria se recuperado de uma outra crise entre 2001 e 2003, na qual precisou de empréstimos do BNDES.
A Assembléia Geral de Trabalhadores que negou de forma oficial às propostas da Busscar foi realizada neste domingo no centro esportivo do Sindicato dos Mecânicos, em Joinville, cidade onde está localizada a encarroçadora.
De acordo com o Sindicato, pelo menos 1,5 mil pessoas foram a Assembleia, que durou cerca de uma hora e meia.
Na oportunidade, foi relato um histórico da situação da companhia e o departamento jurídico explicou quais as possíveis implicações de os trabalhares aceitarem ou não o plano de recuperação.
Alguns cartazes pediam que o sindicato requeresse a falência da empresa, mas este assunto não foi votado, o Sindicato prefere esperar a Assembleia dos Credores.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
Sindicato dos Mecânicos de Joinville, em Santa Catarina, negou, em Assembleia, de forma oficial, as propostas do plano de recuperação da Busscar, encarroçadora que já disputou liderança do mercado que está desde 2008 em crise e há dois anos sem pagar salários e direitos trabalhistas. Com isso, de forma judicial a falência da Busscar está mais próxima. Além dos trabalhadores, outros credores também já mostraram insatisfação com o plano da Busscar. 
FOTO: Adamo Bazani.