Vendas de ônibus crescem em maio, mas ano ainda acumula queda

Fonte: Blog Ponto de Ônibus

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Ônibus rodoviário. Vendas de ônibus tiveram alta de 3,15% entre abril e maio, mas no acumulado do ano a queda chega a 10,13%. Entraves às licitações, atrasos nos investimentos em mobilidade urbana e o fraco desempenho da economia brasileira ajudam a entender os motivos de os números não mostrarem um cenário plenamente satisfatório para produtores e vendedores de ônibus. Foto: Adamo Bazani.
Vendas de ônibus acumulam queda de 10,13%
Entre abril e maio, houve crescimento de 3,15%
ADAMO BAZANI – CBN
As vendas de ônibus entre abril e maio deste ano registraram alta de 3,15%. Foram emplacadas 2 mil 554 unidades no mês passado ante 2 mil 476 em abril.
Os dados consolidados foram divulgados nesta terça-feira, dia 03 de junho de 2014, pela Fenabrave- Federação Nacional da Distribuição Nacional de Veículos Automotores.
Apesar do número positivo, o clima não é de pleno otimismo no setor de produção e venda de veículos de transporte coletivo.
A alta de abril para maio não foi suficiente para reverter o acumulado de queda do ano.
Entre janeiro e maio de 2014, foram vendidos 12 mil 737 ônibus, micro-ônibus e miniônibus. O número representa queda de 10,13% em comparação à semelhante período de 2013, quando foram comercializados 14 mil 173 veículos de transporte coletivo.
Na comparação entre maio deste ano, que registrou vendas de 2 mil 554 ônibus, e maio do ano passado, com 2 mil 896 unidades, foi de 11,81%
E parece que o “boom” da Copa do Mundo e dos investimentos em mobilidade urbana não corresponderam plenamente às expectativas dos fabricantes e revendedores de ônibus.
Não que o evento e os investimentos não tenham peso, mas diversas obras de mobilidade foram deixadas em segundo plano e só vão ser entregues depois da Copa, sem data prevista.
Se as obras previstas na Matriz de Responsabilidades da Copa não tiveram o ritmo adequado até agora, imagine depois da Copa.
Outras incógnitas na relação entre poder público e iniciativa privada também influenciam no desempenho modesto (para dizer o mínimo) do mercado de ônibus.
Desde 2008, a licitação da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres esbarra na queda de braço entre empresas de ônibus rodoviários e o Governo Federal. Não há consenso sobre a divisão de lotes e grupos, taxa de ocupação das viagens, fixação de tarifas, quantidade de frota e até mesmo sobre os modelos dos ônibus.
A indústria tenta convencer a presidente Dilma Roussef a sancionar a Medida Provisória 638/14, apresentada pelo Senado Federal, e aprovada no dia 28 de maio de 2014 pela Câmara dos Deputados.
A MP regulamenta a concessão de linhas rodoviárias intermunicipais e interestaduais. A operação dos serviços seria concedida pelo regime de autorização, em vez dos regimes de concessão e permissão, conforme prevê a lei atual (10.233/01).
As autorizações seriam regionalizadas e venceria quem tivesse interesse em prestar serviços em determinadas ligações e oferecesse melhores condições técnicas e de preço.
A Medida Provisória poderia colocar um fim aos principais entraves hoje apresentados à licitação. O certame trata o sistema de transportes rodoviários como um todo, o que é alvo de críticas por parte das empresas de ônibus que dizem que o modelo desrespeita a estrutura formada pelo mercado há anos e as especificidades regionais.
Outro fator que pode explicar os números não muito animadores para as vendas de ônibus é que este ano é eleitoral. A frase pode parecer estranha.
Em outras épocas, ano eleitoral era tempo de festa para as indústrias e revendedores de ônibus, já que era quando as renovações de frota ocorriam em maior número. Afinal, a qualidade dos transportes interfere muito na imagem de um administrador político que criava cenários que obrigavam as renovações por parte das empresas, principalmente urbanas e metropolitanas.
Mas depois das manifestações de junho do ano passado, para a imagem dos políticos, a questão dos transportes ficou mais ligada às tarifas do que à idade da frota.
Assim, para este ano, grandes sistemas de transportes em todo o País congelaram mais uma vez os aumentos.
Mesmo com os subsídios, os empresários dizem não se sentir seguros em fazer grandes investimentos em renovações, isso sem contar que não há complementações de receitas em todas as cidades ou regiões metropolitanas.
Grandes sistemas que deveriam ser licitados, como de São Paulo e Porto Alegre, encontram diversos entraves.
Na Capital Paulista, o certame deveria ser realizado no ano passado. Mas depois das manifestações que apontaram uma série de dúvidas sobre as contas do sistema, a prefeitura cancelou o edital e só vai lançar uma nova licitação após a realização de um trabalho de auditoria, realizado pela empresa Ernest & Young, que ainda está em andamento.
Em Porto Alegre, a queda de braços é entre empresas que prestam hoje os serviços e a prefeitura. Os envelopes do certame que deveriam ser abertos nesta terça-feira, mas a licitação foi suspensa pelo TCE – Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul.
Outras licitações de cidades menores, como em Mauá, no ABC Paulista, não animam muito as empresas. A cidade tem um histórico polêmico em relação aos transportes e as inseguranças jurídicas sobre o sistema desestimulam quem não é da região a tentar investir.
Não bastassem estes fatores relacionados especificamente ao setor de venda de ônibus, há um cenário geral que também não é plenamente favorável. A indústria automotiva estava havia pouco tempo com pátios lotados e existem barreiras de exportação para a Argentina ainda discutidas entre os dois países.
A economia brasileira também não cresce como investidores e população precisam. A evolução do PIB – Produto Interno Bruto Brasileiro está entre as menores da América Latina.
MARCAS:
No acumulado do ano, os emplacamentos por marcas de ônibus não tiveram alterações nas quatro primeiras colocações, mas a Scania avançou um posto ultrapassando a Iveco.
EMPLACAMENTOS POR MARCAS ENTRE JANEIRO E MAIO:
1º MERCEDES-BENZ – 5.792 ônibus – 45,47% de participação no mercado.
2º MAN/Volkswagen – 3.082 ônibus – 24,20% de participação no mercado.
3º MARCOPOLO/Miniônibus Volare – 2.258 ônibus – 17,73% de participação no mercado.
4º VOLVO – 645 ônibus – 5,06%% de participação no mercado.
5º SCANIA – 358 ônibus 2,81% de participação no mercado.
6º IVECO (contando o miniônibus Cityclass) 344 ônibus 2,70% de participação no mercado.
7º AGRALE- 237 ônibus 1,86% de participação no mercado.
EMPLACAMENTOS POR MARCAS ENTRE JANEIRO E ABRIL:
1º MERCEDES-BENZ – 4.615 ônibus – 45,32% de participação no mercado.
2º MAN/Volkswagen – 2.469 ônibus – 24,25% de participação no mercado.
3º MARCOPOLO/Miniônibus Volare – 1.788 ônibus – 17,56% de participação no mercado.
4º VOLVO – 518 ônibus – 5,09% de participação no mercado.
5º IVECO (contando o miniônibus Cityclass) – 312 ônibus 3,06% de participação no mercado.
6º SCANIA – 269 ônibus 2,64% de participação no mercado.
7º AGRALE- 196 ônibus 1,92% de participação no mercado.
MERCADO GERAL:
Considerando os principais segmentos da indústria de veículos, foram vendidas no acumulado entre janeiro e maio deste ano 1 milhão 399 mil 350 unidades de carros de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus. O número é 5,47% menor que as 1 milhão 480 mil 352 unidades comercializadas em igual período do ano passado. O total não leva em conta as motos.
Dividindo por segmentos, as vendas nos cinco primeiros meses deste ano representam os seguintes números:
Carros de Passeio: 999.267 unidades
Comerciais Leves: 332.750 unidades
Caminhões: 54.596 unidades
Ônibus: 12.737 unidades
Motos: 613.863 unidades
Implementos Rodoviários: 24.101 unidades
Tratores e Máquinas Agrícolas: 25.295 unidades
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN , especializado em transportes