Dia do Motorista: Muito a homenagear. E para comemorar?
Pesquisa revela que profissionais do setor de transportes possuem os piores indicadores de saúde. No entanto, a paixão ainda fala mais alto entre os astros do volante
ADAMO BAZANI – CBN
Dia 25 de julho é do Dia do Motorista. Uma oportunidade de homenagear aqueles que receberam um dom especial: transportar vidas, cargas, progresso, histórias e estar presente no cotidiano das pessoas.
O motorista acaba virando um amigo do passageiro e fazendo parte da jornada de trabalhadores, estudantes e daqueles que contam agora com o direito merecido de viajar, passear e se locomover após uma vida inteira dedicada ao trabalho. O motorista aproxima pessoas e reduz a distância entre o que é produzido pela agricultura e indústria e milhões de lares.
Mas homenagear os motoristas também é discutir os problemas que envolvem a categoria, seja nas modalidades de carga e passageiros, para tentar achar soluções e apresentarcondições de trabalho e de vida mais dignas.
Uma pesquisa realizada pela SulAmérica Saúde com dez setores diferentes da economia revela que os trabalhadores em transportes são os que apresentam os piores indicadores de saúde.
A pesquisa foi bem extensa e abordou, segundo reportagem de Nelson Bortolin, da Revista Carga Pesada, 41 mil 366 profissionais dos seguintes setores: indústria da transformação; atividades financeiras ; informação e comunicação; comércio; transporte; saúde; outros serviços; atividades administrativas; atividades profissionais; e construção.
Somente do setor de transportes foram 2 mil 735 pessoas que trabalham em 240 empresas de diferentes regiões em todo o País.
Foram analisados nos profissionais das dez áreas, 15 indicadores de saúde. O setor de transportes recebeu as piores notas em sete deles: Índice de Massa Corpórea (IMC),glicemia, colesterol total, tabagismo, consumo de álcool, infarto e acidente vascular cerebral (AVC), e Escore de Framingham (risco de doença cardiovascular ocorrer em 10 anos).
Segundo os resultados, 62,4% de todos os profissionais pesquisados na área de transportes estão com o Índice de Massa Corpórea (IMC) acima do limite aceitável.
Já 61,9% dos trabalhadores em transportes sofrem com sedentarismo. O colesterol está acima do normal para 33,5% dos profissionais avaliados.
A pressão arterial é problema para 20,6% dos profissionais, sendo que 10,7% sofrem de pressão arterial e 0,5% já tiveram infarto.
O vício também é um problema recorrente em quem dirige ônibus, caminhões, táxis, vansou outros veículos de maneira profissional. O índice de tabagismo é de 9% e de alcoolismo é de 4,2%
A pesquisa mostra um universo dos setores de carga e passageiros.
São vários os fatores que podem explicar estes números tão negativos.
O estresse é um deles. Segundo a Organização Mundial da Saúde, motorista de ônibus urbanos está entre as profissões com maior nível de estresse no Brasil.
Além das situações visíveis, como o trânsito ruim e o relacionamento com os passageiros, há outros fatores geradores de estresse: como altas cargas horárias, pressão para cumprimento de tabelas cada vez mais apertadas, medo da violência (assaltos e até incêndio a ônibus) e a dupla função, pela qual o motorista dirige e cobra a passagem ao mesmo tempo.
No caso dos motoristas de caminhão, a solidão, falta de apoio e estrutura durante a viagem e a necessidade de fazer muitas viagens para que o serviço financeiramente possa valer a pena também contribuem para o estresse.
O estresse desencadeia outros problemas, como o vício e índices de colesterol e pressão arterial ruins.
O Senado Federal aprovou no dia 03 de junho deste ano, o Projeto de Lei da Câmara PLC41/2014 que flexibiliza a lei 12.619/2012 que regulamenta a profissão de motorista.
A flexibilização divide opiniões. Ao mesmo tempo que adequa o trabalho do motorista, em especial de caminhão, à falta de estrutura nas estradas, como ausência de pontos seguro para descanso, permite jornadas mais longas e cansativas com menor tempo de folga entre um turno e outro, o que pode ser perigoso para o profissional, para outros motoristas e passageiros.
Pelo projeto de alteração, tempo de jornada poderá ser de 10 horas, sendo oito horas normais e mais duas horas extras.
Segundo nota do Senado, “a cada seis horas no volante, o motorista deverá descansar 30 minutos, mas esse tempo poderá ser fracionado, assim como o de direção, desde que o tempo dirigindo seja limitado ao máximo de 5,5 horas contínuas. Atualmente, o tempo máximo de direção é de 4 horas contínuas”.
O Senado também flexibilizou o tempo entre uma jornada e outra. As onze horas de descanso a cada 24 horas podem ser fracionadas no veículo, durante os períodos de 30 minutos de descanso, mas o primeiro período deve ser de oito horas contínuas. A lei hoje em vigor determina descanso inicial ininterrupto de 9 horas.
A Câmara dos Deputados aprovou no dia 02 de julho o texto base com estas modificações, que ainda não entraram em vigor.
Também foi aprovada a obrigatoriedade de exames toxicológicos, para identificar o uso de drogas, antes de o motorista conseguir a carteira profissional, na hora de renovar o documento e na metade do tempo entre a retirada da carteira pela primeira vez e a renovação.
FALTAM MOTORISTAS:
Atualmente, de acordo com a CNT – Confederação Nacional do Transporte há um déficit de aproximadamente 140 mil motoristas profissionais em todo País.
Os salários da categoria poderiam ser melhores, mas também não estão entre os piores em relação ao outras profissões.
O que mais desmotiva os jovens a se tornarem profissionais do volante são as condições de trabalho e a falta de perspectiva de crescimento na carreira.
No entanto, vale ressaltar que nem tudo é ruim no setor.
A profissão de motorista é um ofício que exige técnica, habilidade e experiência.
Mas também é movida pela paixão. A sensação de liberdade num caminhão na estrada ou o contato com diferentes tipos de pessoas nos ônibus urbanos ou rodoviários, o prazer de conduzir vidas e mercadorias fazem com que, apesar de todas as dificuldades, muita gente não troque o volante por nenhum serviço de escritório.
Além disso, há ainda famílias cujas várias gerações são de motoristas. E se depender dos novos que estão entrando na vida profissional, as famílias ainda terão anos e anos de motoristas pela frente.
Também vale destacar que existem empresas, tanto de ônibus como de transporte de carga, que se conscientizaram e investem na qualidade de vida, saúde e bem estar dos profissionais do volante, através de programas de investimento no trabalhador.
Dirigir é acima de tudo cumprir uma função humana e social.
Os parabéns de nossa reportagem a todos os astros do volante.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
Pesquisa revela que profissionais do setor de transportes possuem os piores indicadores de saúde. No entanto, a paixão ainda fala mais alto entre os astros do volante
ADAMO BAZANI – CBN
Dia 25 de julho é do Dia do Motorista. Uma oportunidade de homenagear aqueles que receberam um dom especial: transportar vidas, cargas, progresso, histórias e estar presente no cotidiano das pessoas.
O motorista acaba virando um amigo do passageiro e fazendo parte da jornada de trabalhadores, estudantes e daqueles que contam agora com o direito merecido de viajar, passear e se locomover após uma vida inteira dedicada ao trabalho. O motorista aproxima pessoas e reduz a distância entre o que é produzido pela agricultura e indústria e milhões de lares.
Mas homenagear os motoristas também é discutir os problemas que envolvem a categoria, seja nas modalidades de carga e passageiros, para tentar achar soluções e apresentarcondições de trabalho e de vida mais dignas.
Uma pesquisa realizada pela SulAmérica Saúde com dez setores diferentes da economia revela que os trabalhadores em transportes são os que apresentam os piores indicadores de saúde.
A pesquisa foi bem extensa e abordou, segundo reportagem de Nelson Bortolin, da Revista Carga Pesada, 41 mil 366 profissionais dos seguintes setores: indústria da transformação; atividades financeiras ; informação e comunicação; comércio; transporte; saúde; outros serviços; atividades administrativas; atividades profissionais; e construção.
Somente do setor de transportes foram 2 mil 735 pessoas que trabalham em 240 empresas de diferentes regiões em todo o País.
Foram analisados nos profissionais das dez áreas, 15 indicadores de saúde. O setor de transportes recebeu as piores notas em sete deles: Índice de Massa Corpórea (IMC),glicemia, colesterol total, tabagismo, consumo de álcool, infarto e acidente vascular cerebral (AVC), e Escore de Framingham (risco de doença cardiovascular ocorrer em 10 anos).
Segundo os resultados, 62,4% de todos os profissionais pesquisados na área de transportes estão com o Índice de Massa Corpórea (IMC) acima do limite aceitável.
Já 61,9% dos trabalhadores em transportes sofrem com sedentarismo. O colesterol está acima do normal para 33,5% dos profissionais avaliados.
A pressão arterial é problema para 20,6% dos profissionais, sendo que 10,7% sofrem de pressão arterial e 0,5% já tiveram infarto.
O vício também é um problema recorrente em quem dirige ônibus, caminhões, táxis, vansou outros veículos de maneira profissional. O índice de tabagismo é de 9% e de alcoolismo é de 4,2%
A pesquisa mostra um universo dos setores de carga e passageiros.
São vários os fatores que podem explicar estes números tão negativos.
O estresse é um deles. Segundo a Organização Mundial da Saúde, motorista de ônibus urbanos está entre as profissões com maior nível de estresse no Brasil.
Além das situações visíveis, como o trânsito ruim e o relacionamento com os passageiros, há outros fatores geradores de estresse: como altas cargas horárias, pressão para cumprimento de tabelas cada vez mais apertadas, medo da violência (assaltos e até incêndio a ônibus) e a dupla função, pela qual o motorista dirige e cobra a passagem ao mesmo tempo.
No caso dos motoristas de caminhão, a solidão, falta de apoio e estrutura durante a viagem e a necessidade de fazer muitas viagens para que o serviço financeiramente possa valer a pena também contribuem para o estresse.
O estresse desencadeia outros problemas, como o vício e índices de colesterol e pressão arterial ruins.
O Senado Federal aprovou no dia 03 de junho deste ano, o Projeto de Lei da Câmara PLC41/2014 que flexibiliza a lei 12.619/2012 que regulamenta a profissão de motorista.
A flexibilização divide opiniões. Ao mesmo tempo que adequa o trabalho do motorista, em especial de caminhão, à falta de estrutura nas estradas, como ausência de pontos seguro para descanso, permite jornadas mais longas e cansativas com menor tempo de folga entre um turno e outro, o que pode ser perigoso para o profissional, para outros motoristas e passageiros.
Pelo projeto de alteração, tempo de jornada poderá ser de 10 horas, sendo oito horas normais e mais duas horas extras.
Segundo nota do Senado, “a cada seis horas no volante, o motorista deverá descansar 30 minutos, mas esse tempo poderá ser fracionado, assim como o de direção, desde que o tempo dirigindo seja limitado ao máximo de 5,5 horas contínuas. Atualmente, o tempo máximo de direção é de 4 horas contínuas”.
O Senado também flexibilizou o tempo entre uma jornada e outra. As onze horas de descanso a cada 24 horas podem ser fracionadas no veículo, durante os períodos de 30 minutos de descanso, mas o primeiro período deve ser de oito horas contínuas. A lei hoje em vigor determina descanso inicial ininterrupto de 9 horas.
A Câmara dos Deputados aprovou no dia 02 de julho o texto base com estas modificações, que ainda não entraram em vigor.
Também foi aprovada a obrigatoriedade de exames toxicológicos, para identificar o uso de drogas, antes de o motorista conseguir a carteira profissional, na hora de renovar o documento e na metade do tempo entre a retirada da carteira pela primeira vez e a renovação.
FALTAM MOTORISTAS:
Atualmente, de acordo com a CNT – Confederação Nacional do Transporte há um déficit de aproximadamente 140 mil motoristas profissionais em todo País.
Os salários da categoria poderiam ser melhores, mas também não estão entre os piores em relação ao outras profissões.
O que mais desmotiva os jovens a se tornarem profissionais do volante são as condições de trabalho e a falta de perspectiva de crescimento na carreira.
No entanto, vale ressaltar que nem tudo é ruim no setor.
A profissão de motorista é um ofício que exige técnica, habilidade e experiência.
Mas também é movida pela paixão. A sensação de liberdade num caminhão na estrada ou o contato com diferentes tipos de pessoas nos ônibus urbanos ou rodoviários, o prazer de conduzir vidas e mercadorias fazem com que, apesar de todas as dificuldades, muita gente não troque o volante por nenhum serviço de escritório.
Além disso, há ainda famílias cujas várias gerações são de motoristas. E se depender dos novos que estão entrando na vida profissional, as famílias ainda terão anos e anos de motoristas pela frente.
Também vale destacar que existem empresas, tanto de ônibus como de transporte de carga, que se conscientizaram e investem na qualidade de vida, saúde e bem estar dos profissionais do volante, através de programas de investimento no trabalhador.
Dirigir é acima de tudo cumprir uma função humana e social.
Os parabéns de nossa reportagem a todos os astros do volante.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes