Amélia que era ônibus de verdade

Fonte: Blog Ponto de Ônibus

Amélia
Caio “Amélia I”, como muitos chamavam, da Viação Paratodos, em São Paulo, Mercedes Benz 1113. O grande desafio para os engenheiros da Caio era manter mercado para a encarroçadora frente às inovações das concorrentes com a responsabilidade de suceder um dos modelos de grande destaque da empresa, o inovador para época, Caio Gabriela.
Porém, tinha vaidade. Foi um desafio para os engenheiros da Caio apresentarem um projeto que aperfeiçoaria o Gabriela, um sucesso que trouxe inovações para o mercado de carrocerias. O Amélia foi contemporâneo a uma época de mudanças nos transportes urbanos.
ADAMO BAZANI
Neste carnaval, nada melhor do que lembrar da história do Samba. Mas você sabia que a uma parte da memória do samba e uma página da história dos transportes no Brasil se encontram, pelo menos no nome.
Quem não se lembra ou até não cantou uma parte da música “Ai Que Saudades da Amélia”, de 1941, escrita por Mário Lago e que recebeu melodia criada por Ataulfo Alves.
Há quem diga que Amélia realmente existiu e seria Amélia dos Santos Ferreira. São várias versões entre elas de que Amélia era uma mulher que Aníbal Alves de Almeida, conhecido como Almeidinha, irmão da cantora Aracy de Almeida, sempre falava de uma mulher que lavava, cozinhava e passava e que realmente existia. Seria uma lavadeira, fiel ao seu marido. Almeidinha então cantarolava sua história na brincadeira, o que deu a ideia a Mário Lago, que pertencia à roda de amigos.
Na história dos transportes, houve também Amélia. Foi um modelo de ônibus dos anos de 1980, fabricado pela encarroçadora Caio, um dos grandes sucessos nas linhas urbanas.
Houve uma outra versão de que a música teria sido encomendada por Getúlio Vargas.
Mas o Amélia não surgiu tão no acaso. Foi fruto de um planejamento para a empresa continuar sendo uma das principais fabricantes de modelos urbanos. E neste Carnaval, o Blog Ponto de Ônibus reapresenta uma matéria de 16 de maio de 2010, com dados sobre a história do modelo e, consequentemente, dos transportes e do dia a dia das cidades:
A primeira imagem, de acervo de Alberto Gomes, traz de um Caio Amélia I, da Viação Paratodos, na época do padrão “saia e blusa” dos ônibus de São Paulo. Ao lado, é possível ver um Marcopolo Torino, das primeiras gerações do modelo. O sistema saia e blusa foi adotado na Capital Paulista em 1978 na tentativa de organizar os operadores pelas regiões que prestavam o serviço. A saia, parte inferior da carroceria, sob o friso na altura das rodas, correspondia à área a ser atendida. A segunda retrata um Scania articulado F 113 da CMTC, um veículo para grande demanda.
As fotos nos fazem remeter a um dos modelos de ônibus de grande sucesso e importância para a indústria nacional: o Caio Amélia. Então, vamos a um resumo de sua longa e bela história.
O Caio Amélia foi um dos grandes sucessos da encarroçadora Paulista, fundada em 1945, pelo imigrante italiano José Massa, ex colaborador da Grassi, primeira empresa a fabricar carrocerias em série no País.
Amelia+CAIO+-+Ano+1981+-+Lançamento+do+Modelo+Amélia+-+Chassí+MBB+OF+131_
Amélia
O Caio Amélia veio numa transição do mercado de ônibus e tinha de se adequar ao momento. A Caio fazia carrocerias para chassis mais simples, de motor dianteiro, e as que atendiam novas normas, com motor atrás ou no meio.
O Amélia “nasceu” com uma grande responsabilidade: suceder o Caio Gabriela, modelo que conquistou tanto mercado, que foi responsável pela entrada da Caio em regiões onde não atendia em larga escala. Além disso, algumas cidades tinham as frotas praticamente formadas somente por Gabrielas.
O Gabriela foi uma inovação tanto na parte estética como na estrutural. Suas linhas eram mais retas, a lataria “mais limpa” de detalhes, as áreas envidraçadas eram maiores, possibilitando maior visibilidade aos passageiros e motorista, e havia reforços em várias partes da carroceria.
Coube aos engenheiros da Caio aperfeiçoarem a inovação, já que as concorrentes da encarroçadora começaram a oferecer novos produtos, que aos poucos desviavam as atenções em relação ao Gabriela.
A solução encontrada resultou no Amélia. E a palavra aperfeiçoamento é uma das mais indicadas para falar da concepção do modelo. As linhas do design ficaram mais retas ainda, porém menos “quadradas” que a de concorrentes como a Marcopolo, e a área de visibilidade aumentou. Além disso, uma melhor disposição dos assentos no salão de passageiros, com possibilidade para mais configurações marcou o projeto do Amélia, pensando ainda enquanto o Gabriela permanecia na linha de produção.
Amélia
O modelo, com linhas mais modernas que o antecessor Gabriela, tinha a responsabilidade de continuar o sucesso no mercado de urbanos.
A substituição e o início da fabricação do Caio Amélia começou em 1980. O modelo não fez feio em relação ao seu antecessor de sucesso, Caio Gabriela, mas não teria conseguido a mesma fatia do mercado por conta das novas opções de outros fabricantes que eram colocadas à disposição dos frotistas em todo o País.
O Amélia foi destaque também no exterior, tendo várias unidades exportadas e montadas em outros países, principalmente da América Latina.
O modelo também traz em sua história outro marco no legado da Caio. Foi o primeiro modelo a ser produzido na planta da empresa em Botucatu, interior de São Paulo, inaugurada em 1982, com uma área total de quase 300 mil metros quadrados.
O Amélia foi considerado o modelo da Caio Botucatu, em sua saga.
Houve o popularmente chamado Amélia I que entre as características trazia um conjunto óptico traseiro com duas lanternas (uma de cada lado) e o Amélia II, com quatro lanternas (uma sobre a outra de cada lado).
O Amélia foi colocado no mercado numa época de transição, na qual os velhos LPOs da Mercedes Benz, a grande maioria que o Gabriela encarroçou, eram substituídos por chassis mais modernos, tanto da Mercedes como de outras montadoras. Uma exigência do mercado, das cidades e da população que começava a se conscientizar e mostrar ao poder público que não queria mais ser transportada em caminhões vestidos de ônibus. E por mais que os administradores pudessem ser aliados aos transportadores, alguma resposta era necessária. O Amélia foi o modelo que encarroçou um dos dois primeiros trolebus articulados de São Paulo, ao lado do Marcopolo Torino, no ano de 1985.
Já havia Gabriela articulado, aliás, em 1978, sobre um chassi Scania B 111, surgia no Brasil o primeiro ônibus articulado do país, justamente com carroceria Caio modelo Gabriela.
Mas foi nos anos de 1980 que os articulados se popularizavam e eram implantados em maior quantidade e em mais sistemas de transportes. Assim, foram muito comuns Amélias articulados.
Amélia
O modelo além de receber verão articulada, encarroçou trólebus, como para a CMTC, na Capital Paulista
Com a expansão do mercado e mais diversidade de chassi, numa época contemporânea ao Amélia, a Caio começou a encarroçar em maior número marcas como Scania e Volvo. O início de um uso maior de motores traseiros para serviços urbanos também foi uma das marcas na história do Amélia. A Caio começou a adaptar seu produto urbano, justamente o Amélia, para esta realidade.
A produção do Amélia se prolongou até 1988, quando foi substituído pelo Vitória, modelo que começou a ser fabricado entre 1987 e 1988, outro sucesso da Caio.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Amelia
Caio Amélia II, da CMTC – Companhia Municiapl de Transportes Coletivos, modelo S 112. O Amélia foi contemporâneo à expansão de diversos modelos de chassis no mercado urbano, terreno quase exclusivo da Mercedes Benz em algumas épocas, e à popularização de novas soluções para o sistema de diversas cidades, como o crescimento do número de veículos articulados.