Com 35 anos, unidade da Marcopolo Ana Rech já produziu mais de 220 mil ônibus e é a maior fábrica de carrocerias do País

Fonte: Blog Ponto de Ônibus

Strada
O Marcopolo Strada era o retrato perfeito do Brasil dos anos de 1980, quando começava a produção da Unidade Ana Rech. Os ônibus ligavam as áreas mais carentes e sem infraestrutura às regiões onde havia maior desenvolvimento e mais oportunidades.
Unidade foi inaugurada em 20 de fevereiro de 1981. Ônibus Marcopolo Paradiso Geração 4 foi um dos marcos da história
ADAMO BAZANI
A unidade da fabricante Marcopolo do Distrito Industrial do bairro Ana Rech, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, pode ser considerada um dos monumentos e marcos da importância dos ônibus nos transportes brasileiros e de como o setor auxiliou o desenvolvimento do País.
A planta completou no último dia 20 de fevereiro de 2016, 35 anos de atividades e é considerada a maior produtora de carrocerias de ônibus do país e a maior da marca em todo o mundo. De acordo com a Marcopolo, atualmente somente a unidade Ana Rech corresponde a 30% da produção nacional de ônibus. A capacidade diária de produção é de 30 veículos e, em toda história, já fabricou mais de 220 mil ônibus, entre micros, urbanos e rodoviários. A planta ocupa uma área total de 471 mil m² e a área construída é de 88 mil m². Segundo a Marcopolo, em 2012, antes da crise econômica brasileira, a planta recebeu R$ 150 milhões em investimentos, em especial para a modernização do processo produtivo.
Segundo nota da Marcopolo, a unidade tem capacidade para atender as diferentes exigências para cada modelo de ônibus, que no Brasil, varia de acordo com as regiões, em especial para os modelos urbanos. Há cidades, por exemplo, que exigem apenas veículos de três portas, em outras, a porta do meio fica mais próxima da frente do ônibus, as larguras também podem variar, entre outras especificações determinadas pelos municípios individulamente. Em nota, a Marcopolo diz que o diferencial é a customização dos veículos, também para artistas.
onibus hidrogênio hydrogen bus
Segundo a Marcopolo, customização dos ônibus é uma das características da Unidade da Ana Rech, desde o atendimento às exigências de cada cidade às características de veículos de tecnologia avançada, como o Viale a Hidrogênio, testado pela Metra no ABC Paulista. Foto. Adamo Bazani
“O grande diferencial em relação à maioria das fábricas de ônibus do mundo é o grau de customização que a linha de produção aplica para atender a demanda dos clientes, desde pinturas especiais até acabamentos internos diferenciados, como os de artistas e cantores, com camarim e estúdio, ou dos times de futebol, passando por configurações específicas, como os ônibus fora-de-estrada que rodam na Amazônia, os de teto removível, para os Emirados Árabes Unidos, ou os movidos a hidrogênio, utilizados em São Paulo. A unidade abriga também o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Marcopolo, com mais de 300 técnicos e engenheiros dedicados à contínua evolução e aprimoramento dos modelos. Marcopolo concentrou também em Ana Rech as áreas de PDI (Inspeção antes da entrega ao cliente) e assistência técnica, além da fabricação de componentes e equipamentos para os veículos, como poltronas, painéis de acabamento, laterais e revestimentos internos, entre outros. As peças produzidas na fábrica de Ana Rech são também enviadas para as demais unidades da empresa no Brasil e no exterior.”
UNIDADE MARCOU TRANSIÇÃO DA MARCA E DA PRODUÇÃO DE ÔNIBUS NO BRASIL:
Ana Rech
Inauguração da Unidade Ana Rech em 20 de fevereiro de 1981 foi considerada marco para a indústria de ônibus
A inauguração da planta em Ana Rech, no dia 20 de fevereiro de 1981, com a presença então presidente João Baptista Figueiredo, foi realizada dentro de um contexto econômico, político e social no país.
A urbanização no Brasil crescia em níveis não vistos anteriormente, apesar de o processo ter começado nos anos 1950. Os transportes metroferroviários não recebiam mais investimentos suficientes e necessários. Eram os ônibus que davam conta deste crescimento respondendo prontamente às necessidades, mesmo com a baixa infraestrutura do país ainda naquela época. Isso mesmo, enquanto em diversas partes do mundo, inclusive na América Latina, nos anos de 1980 as cidades já desenvolviam redes de transportes mais eficientes e novos conceitos urbanísticos, o Brasil vivia realidades diferentes com crescimento urbano em algumas áreas e ainda presença forte de ruas e estradas de terra.
As realidades eram diferentes dentro de um mesmo município, com regiões centrais desenvolvidas e periferias carentes do básico para os cidadãos. Mas lá estavam os ônibus, ligando as diferentes situações e permitindo com que as pessoas das áreas mais afastadas tivessem acesso ao desenvolvimento e à oportunidade de crescer.
Os passageiros ficavam aos poucos mais exigentes, mas diante das condições adversas, os ônibus ainda tinham de ser bem robustos.
A unidade também marcou a transição da linha de produtos da empresa. Lá é que foram produzidos os últimos Marcopolo da série 3, o Marcopolo III.
Paradiso
O Marcopolo Paradiso da Geração 4 ficou na história e trouxe uma configuração nova para os ônibus das estradas.
Em 1983, já estavam no mercado os ônibus da chamada Geração 4. Novos modelos e novos nomes: foi na época do início dos trabalhos da Ana Rech que surgiram Marcopolo Paradiso e o Marcopolo Viaggio (rodoviários), Marcopolo Strada ou Viaggio Strada, que era uma espécie de ônibus off road, Marcopolo Torino (urbano) e Marcopolo Senior (micro).
O alto volume de produção indicava a necessidade pelo transporte coletivo desenvolvendo o país. Dez anos após a inauguração da planta Ana Rech, segundo a Marcopolo, era feito o ônibus número 60 mil, o rodoviário Paradiso da Geração 4.
Em nota, a Marcopolo diz que a unidade continua alcançando números importantes:
“Com o objetivo de suprir a crescente demanda de produção da época, a unidade de Ana Rech foi inaugurada em 1981, com a presença do então presidente da República, João Baptista Figueiredo. A construção, iniciada três anos antes, projetava a implantação de modernos sistemas de fabricação, planejados e desenvolvidos para obter alto grau de racionalização e produtividade. Dez anos após a fundação, a fábrica comemorou a produção do ônibus 60.000, o rodoviário Paradiso da então Geração 4. Em 2001, a unidade Ana Rech foi considerada “fábrica modelo”, com equipamentos, pessoal especializado, processos industriais e desenvolvimento do produto. Em 2015, foi produzido o veículo 400.000. Além das áreas de produção, administração, comercial e de engenharia, a fábrica de Ana Rech contempla um Centro de Treinamento para capacitação dos empregados e de clientes, além de uma unidade da Escola de Formação Profissional Marcopolo, para aprendizagem de menores da comunidade. Conta também com uma ampla estrutura de suporte aos empregados, como restaurante, serviços médicos, farmácia, bancos, despachantes, seguradora, biblioteca e loja conveniada.”
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes