Novos números comprovam que o ônibus é amigo do meio ambiente em São Paulo

Fonte: Blog Ponto de Ônibus

ônibus
Ônibus são meios de transporte que trazem benefícios ambientais que são ampliados quando poder público estimula a aplicação de soluções mais limpas, como ônibus elétricos
Transporte coletivo por ônibus é responsável por 19% da poluição e carros por 65%. Frota limpa de ônibus, sem esquecer da expansão da rede de trilhos de alta capacidade, faria uma cidade mais humana e amigável à vida
ADAMO BAZANI
Que o transporte público é uma das principais soluções para reduzir o trânsito e a poluição, praticamente é consenso, até entre os que não são ditos especialistas.
No entanto na hora de colocar em prática ações que realmente ampliariam a oferta de transporte coletivo, aí a situação muda de figura e a velocidade e a seriedade dos projetos nem sempre são satisfatórias.  Por isso, quando surge algum dado novo sobre o benefício do transporte coletivo para o bem-estar geral e de cada indivíduo é importante destacar.
Desta vez, o Blog Ponto de Ônibus reproduz um dado recente revelado nesta segunda- feira, 25 de janeiro de 2016, ao jornal O Estado de São Paulo pelo IEMA – Instituto de Energia e Meio Ambiente e compara com outros números de diversas fontes oficiais.
De acordo com um estudo do IEMA, que ainda está em andamento, no entanto, este resultado já é consolidado, com base nos inventários da Secretaria de Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo e da Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, os carros de passeio são responsáveis por 65% das emissões de poluentes do setor de transportes na capital paulista e os ônibus respondem por 19% destas emissões. Vale destacar, no entanto, que os ônibus que poluem menos, transportam mais da metade das pessoas que se deslocam por dia em São Paulo.
Só por este resultado, a defesa de investimentos em melhorias nos sistemas de ônibus, sem claro, se esquecer da tão necessária e primordial expansão da Rede de Metrô e trens da CPTM, já ganharia um argumento forte a mais.
Entretanto, se este dado não for analisado de maneira isolada e for comparado com outros números importantes sobre a frota da capital paulista e o número de viagens e pessoas atendidas na Grande São Paulo, aí é possível chegar à conclusão que é quase um ato homicida continuar privilegiando o transporte individual motorizado, embora que se não pode deixar de lado ações da prefeitura de São Paulo, como as faixas de ônibus, que somam hoje 485 quilômetros, e as ciclovias, apesar de erros em alguns espaços da cidade. Infelizmente, no entanto, o total de corredores de ônibus é tímido: em torno de 130 quilômetros para mais de 17 mil vias, 9 milhões de passageiros por dia (contando integrações com trem e metrô) e quase 15 mil ônibus municipais.
FROTA X POLUENTES E VIAGENS X FROTA:
Se os números do IEMA forem comparados ao total de frota na cidade, veremos que os ônibus ainda são muito poluentes, havendo a necessidade de tecnologias alternativas ao óleo diesel.
No entanto, se levarmos em consideração o número de pessoas atendidas pelos ônibus e pelos carros, chegaremos à óbvia conclusão de que o ônibus sim é um investimento em prol do meio ambiente, mas análise não termina aí.
De acordo com dado mais recente do Denatran – Departamento Nacional de Trânsito, referente ao mês de dezembro de 2015, São Paulo tem um frota de 7 milhões 590 mil 181 veículos automotores em geral, entre motos, carros, caminhões e ônibus.
Já de acordo com o dado mais recente da SPTrans – São Paulo Transporte, gerenciadora do sistema da capital paulista, referente ao mês de dezembro de 2015, a cidade tem uma frota de 14 mil 754 ônibus para as linhas municipais.
Arredondando os números, os ônibus municipais correspondem então a 0,3% da frota de veículos na capital paulista. Se 0,3% são responsáveis por 19% das emissões de poluição, significa que os ônibus, numa primeira análise, são bem poluidores. Isso reforça a necessidade de ampliação de tecnologias que reduzem as emissões dos coletivos sobre pneus, como ônibus elétricos a bateria, ampliação da rede de trólebus (que hoje estão mais modernos), ônibus elétrico-híbrido, ônibus a gás natural, ônibus a biometano, ônibus a etanol, ônibus a diesel de cana de açúcar, entre outras soluções.
O cumprimento da lei 14.933, de 5 de junho de 2009, a chamada Lei das Mudanças Climáticas, que determina que até 2018 nenhum ônibus na cidade de São Paulo dependa exclusivamente do uso do óleo diesel, já aumentaria os ganhos em prol do meio ambiente que transporte coletivo pode proporcionar aos cidadãos. A troca dos ônibus deveria começar em 2009, com a substituição de 10% dos ônibus por ano. Mas nem mesmo a licitação dos transportes na cidade contempla a lei, o que é contestado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
Como especialistas em mercado de ônibus e o próprio poder público dizem que até 2018 será impossível cumprir a determinação legal, já que hoje apenas 656 ônibus, incluindo os 200 trólebus, têm condições de atender à lei, o que se pede é que a licitação contemple uma exigência que proporcione mudanças de fato, com a elaboração de um cronograma mais próximo da realidade. Mas deve haver cobranças e não apenas citar a existência de tecnologias não poluentes sem nenhuma meta clara, como até então há nos editais da licitação.
Os ônibus em corredores e faixas, por terem um desempenho melhor, mesmo a diesel, também poluem menos.
Mas calma! Comparar apenas as emissões com a frota seria uma análise muito superficial da realidade que induziria a conclusões erradas. Há um equívoco, inclusive de alguns especialistas e formadores de opinião, que parecem não entender que a cidade não pode ser feita para veículos, seja carro, ônibus, caminhão, moto, etc. A cidade é para pessoas e aí que está o “X” da questão que mostra sim que o ônibus, apesar de ser movido a diesel, ainda é um amigo do meio ambiente. É a quantidade de viagens realizadas e de pessoas atendidas pelos modais de transportes que deve ser levada em conta.
Segundo a mais recente pesquisa de Origem e Destino do Metrô, disponível para consulta, em 2007, o transporte público foi responsável por 55,3% das 38,2 milhões de viagens motorizadas na Grande São Paulo.
Os ônibus respondem por 75% aproximadamente dessas viagens por transporte público na Grande São Paulo.  Por que levar em consideração os números da Grande São Paulo e não só da capital paulista?  Porque muitas das viagens que são realizadas em São Paulo iniciam nos municípios ao entorno.
O que se conclui é que os ônibus atendem a mais da metade das pessoas que se deslocam na cidade de São Paulo. Por pessoa transportada, os ônibus poluem 12 vezes menos que os carros.
Assim o transporte coletivo de passageiros é uma maneira inteligente de ocupar o espaço urbano e ao mesmo tempo de oferecer qualidade de vida, reduzindo os índices de poluição.
As políticas públicas em prol do transporte coletivo devem ser mais realistas e transparentes com a população. Demandas grandes devem ser atendidas por sistemas de trilhos de alta capacidade, como metrô subterrâneo e o trem pesado, pelos altos investimentos e complexidade das obras. Médias demandas são perfeitamente atendidas por corredores modernos de ônibus BRT  Bus Rapid Transit, que são até dez vezes mais baratos e podem ser implantados até cinco vezes mais rapidamente que os outros sistemas de média capacidade. E o problema de mobilidade em cidades como São Paulo e as que formam a região metropolitana exigem soluções rápidas e duradouras.
Quanto mais ônibus eficientes, mais trem e mais metrô de alta capacidade houver, mais a vida vai agradecer nas cidades.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes